Autor: Outsider
Excessos . . .
Persegue-se um devaneio, ignoram-se fronteiras e acedemos à terra dos sonhos . . .
Apesar do tempo ter passado por mim, acho que nunca cresci. Tempo e razão são conceitos mais ou menos esquizofrénicos, formatados para a sociedade de consumo imediato. Para mim, não me servem. Penso e ajo como quando tinha 16 anos. Profissão foi coisa que nunca tive, responsabilidade e identidade são palavras ocas e despojadas de qualquer significado. Hoje, é tarde para mudar, os hábitos estão demasiado enraizados e os vícios são pouco tolerantes para com o corpo e para com o cérebro.
Comecei a fumar erva quando entrei no Secundário. Rapidamente passei do simples charro ao cachimbo de água, onde a cannabis era a rainha e eu um simples escravo. A primeira vez que consumi cannabis fumei 6 de seguida. Vomitei, desmaiei e dei por mim amparado por meia dúzia de colegas a entrar numa aula de Português. A Prof. boquiaberta perguntava; - o que é que te aconteceu? A única resposta que obteve foi um resto de vómito esverdeado que lhe deu outra cor às calças que trazia vestidas. Depois comecei a sentir-me bem, feliz, satisfeito com a vida. Gastava todo o dinheiro que conseguia na erva. Com o tempo, o modelo de consumo tornou-se aditivo em vez de recreativo e social. As pessoas fumavam em grupo e ficavam ali paradas, a olhar umas para as outras, como estátuas firmes e hirtas. Nestes momentos etéreos e celestiais, não se fala, não se come, não se dorme, apenas se curte a onda e se alimenta o vício. De manhã, levantava-me e fumava, bebia um café e voltava a fumar; os dias, os meses, e muitos anos resumiram-se a este padrão de vida. Nesta fase, não sabia quem eu era nem quem eram os outros. Comecei a achar que nada me podia acontecer, atirava-me para a frente dos carros, nadava pelo mar adentro até à exaustão, assaltava cafés em hora de encerramento. A cannabis abria-me o pensamento para outros mundos, outras crenças, conduzia-me por alucinações auditivas e visuais. Gradualmente, comecei a desenvolver uma sintomatologia psicótica. Tornei-me inquieto, perturbado e demoníaco. Ultimamente, tenho tido, também, pensamentos suicidas. Penso em saltar do ponto mais alto do Buraco da Oca; sabe sempre bem voltar às origens e . . . sem coragem não há glória. Um mergulho, uma nova vida. A paranóia substituíu completamente a realidade. A cannabis deixou-me marcas para toda a vida, desenvolvi uma psicose obsessiva, maníaca e, por vezes, depressiva. O meu cérebro está danificado; - células mortas! Dizem os médicos. Perturbações constantes de humor, manias, tiques, perseguições alucinatórias são o meu padrão de comportamento actual.
Vejo . . .
Mulheres desnudadas que dançam à minha volta, mas que não consigo tocar . . .
Anjos que tentam espetar-me facas na garganta, mas que não conseguem acertar . . .
A minha vizinha de 60 anos que no elevador me volúpia, mas que não consigo resistir . . .
Oiço . . .
Ramstein a tocar à porta do meu quarto, e eu às 4 da manhã a aplaudir . . .
A cozinheira do restaurante onde almoço dizer que o patrão lhe meteu a mão pelas entranhas, mas o homem morreu o ano passado . . .
O vigário da minha freguesia confessar que gostava de me tactear . . .
Um tormento! Uma vida desperdiçada! Uma vida onde o Sábado e o Domingo são iguais aos dias de semana, as manhãs idênticas às noites e onde a Primavera não se diferencia do Outono. Uma vida sem sentir, sem amar e sem partilhar. Uma solidão profunda, uma inquietude constante, uma psicose avassaladora e destrutiva. Uma vida sem afectos nem emoções. Um tormento! Uma vida desperdiçada!
Ajudem-me.
Referências: Outsider (2006). O meu cérebro alucinado. 1ª ed. Blogota: Ota.
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